quinta-feira, 7 de julho de 2011

" Tenho frases guardadas, que fiquei de dizer quando houvesse sentido." (Gabito Nunes)


Será possível sentirmos saudade de algo ou alguém que não conhecemos? Possível sei que é, mas nunca soube de outra pessoa que sentisse isso que não eu. Sim, eu te conheci. Por pouco e vago tempo eu tive sua presença, mas não foi o suficiente para saber quem você era. Não sei qual era sua comida preferida, seu medo de infância, o que te deixava com raiva, nem nunca ouvi, de você mesmo, suas famosas histórias de aventura.
Não me lembro de você me ter dado uma real oportunidade de te conhecer, mas não fujo do fato de eu nunca ter tido interesse também. Foi uma ausência de ambos os lados, uma dupla culpa.
A maior oportunidade que tive talvez de estar com você foi já no final... recusei mais uma vez. Se não havia tido curiosidade de te ver bem, quanto mais mal. Por incrível que pareça nunca me senti culpada por essa falta de vontade. Achava admissível depois de anos de ausência. Mas no fim o sentimento ainda foi de perda. Perda de alguém que eu sabia o nome, o rosto, a voz... Perda de alguém que eu acredito que me amou, mas não se fez presente. Eu perdi. Você também perdeu. A perda foi múltipla. A oportunidade passou, eu não te conheci realmente e sinto falta disso. Que “porcaria”.
Acredite, penso sempre em você. Como uma pessoa estranha de quem sinto falta ter conhecido. Nunca vou saber se meus dedos realmente são tão iguais aos seus ou se minha mania de guardar caixas é algo hereditário. Você nunca me contou sobre uma viagem ou um dos dias de trabalho no fundo do mar.
Não sei se posso dizer que cheguei a sentir amor por você... Talvez no início, mas sei que sinto falta de ter te conhecido. Na verdade, sinto muito. Acho que nos daríamos bem.
As pessoas se surpreendem quando perguntam de você e respondo naturalmente o que já aconteceu. Elas pedem desculpa e eu não sinto o porquê disso.
Você sabe que tem outra pessoa executando o seu papel há anos, mas não sabe que sinto sua falta. Aliás, ninguém sabe e acredito que nem ao menos desconfiem. É aquele assunto que guardamos no fundo do peito, bem no cantinho. Mas que vez ou outra a gente mexe sei lá porque.
Quando eu penso em você não choro. Não me culpo. Apenas lamento. Lamento não termos tido a coragem de nos conhecermos. Na verdade, acredito que somente hoje em dia eu conseguiria querer te conhecer e vir a entender suas razões. O vicio é uma doença e essa doença destrói, eu sei e você sabe.
Entre ovos de Páscoa no mês de julho e parabéns por telefone uma vez por ano, restam hoje e somente depois de adulta, o vazio da ausência e uma carta com a sua letra.
O mais galanteador, o mais charmoso, o maior contador de histórias, o cara de bigode, o dos dedos longos, o que adorava entulho, o carinhoso, o mergulhador, o caçula... o tempo que tivemos juntos foi pouco demais... sinto muito por não ter realmente te conhecido, pai.